Funjope abre exposição ‘Transanimal’, da artista Acauã, nesta sexta-feira
A Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) abre, nesta sexta-feira (7), às 16h, a exposição ‘Transanimal’, da artista trans Acauã, na Galeria Casarão 34. A mostra, que pode ser conferida de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h e, aos sábados, das 9h às 12h, segue até 29 de junho, com entrada gratuita.
“Essa exposição faz parte de um trabalho da Funjope, por meio dos editais de ocupação e, nestes editais, sempre acolhemos os artistas pretos e pretas, LGBTQIAP+ porque consideramos que é importante esse momento de inclusão por meio da arte de todos os gêneros, de toda a diversidade da nossa cultura. Os editais de ocupação têm esse aspecto de democratizar o acesso à arte e à cultura para todos os grupos sociais”, analisou o diretor executivo da Funjope, Marcus Alves.
“Transanimal é uma exposição que retrata um pouco da minha vivência como pessoa trans não binária porque, afinal, que bicho é esse que não é homem e nem mulher? É esse questionamento que eu trago, a partir de uma vivência de ser julgada, ser apontada como bicho, como uma aberração perante algumas normas do sistema, que coloca uma imposição de gênero que você só pode ser uma coisa ou outra. E eu me sinto como as duas coisas”, afirma a artista Acauã.
Ela diz que esse local onde se identifica lhe coloca em uma posição de desumanização por parte de algumas pessoas dentro da sociedade. “É com isso que brinco na exposição, o ser bicho, de ser julgada como bicho e me entender como bicho, afinal todos nós somos. É essa a reflexão que eu gostaria de trazer também. A exposição retrata tanto a identidade de gênero como também a reconexão com a natureza, com o bicho que nós somos, sempre fomos e perdemos essa conexão ao longo da vida”, comenta.
A exposição é composta por instalações que remetem a cenários da natureza. A principal, que ficará no centro da Galeria, se chama ‘Ninho de Cobra’, que remete à Caatinga, já que a artista é do Sertão da Paraíba. As outras obras são esculturas, pinturas, fotografias e há também uma videoarte. “É uma exposição muito artística que vai abordar várias artes diferentes dentro das artes visuais”, acrescenta.
‘Transanimal’ reúne um conjunto de dez obras nas quais, em sua maioria, se inserem esculturas, pinturas e instalações. A exposição tem como objetivo possibilitar o resgate do vínculo inconsciente entre humano-natureza, trazendo a figura da persona Mariposa como símbolo da dinâmica híbrida entre os dois meios.
Em consequência, gera uma crítica acerca do cenário antropoceno no qual a humanidade avança para uma era tecnológica e robótica, em negligência gritante às necessidades naturais e ambientais.
Além do cunho socioambiental, a artista questiona, com o título da sua exposição, a condição de animalidade que é socialmente associada a corpos dissidentes de pessoas trans, travestis e não-binárias, que divergem da idealização social cis do que é ser ‘normal’.
A artista – Acauã de Morais Medeiros nasceu no município de São José do Sabugi, município inserido no centro do Vale do Sabugi, conhecido como portal para o Sertão paraibano. Pessoa trans não-binária, ela tem como foco do seu fazer artístico a criação da Mariposa, uma persona/entidade nascida a partir da abordagem da maquiagem drag, performance, pintura e, às vezes, manipulação digital.
Seu processo artístico é atravessado pela ligação com a natureza, trabalhando com folhas e flores, ou se inspirando em animais, fungos e plantas para construção da persona. Discute também a desconstrução de gêneros binários (homem/mulher) e a antropomorfia humana. Mariposa é uma criatura esotérica que está envolta em magia e, assim como o próprio inseto, assume um constante voo em direção da luz. Sua proposta é a cura.